Um dia nos EUA um empresário se aborreceu, trancou a fábrica dele com mulheres e crianças lá dentro e tocou fogo em tudo. Elas e os filhos morreram. Eram trabalhadoras que faziam tecidos da cor lilás. Queriam apenas receber os mesmos salários dos homens e terem creches para seus filhos. Muito tempo depois, num Congresso de mulheres em outro país, aquele trágico dia de violência contra as operárias da fábrica de tecidos foi lembrado: Era o dia 8 de março que ficou como o Dia Internacional da Mulher.
A luz do sol ainda não raiou na escuridade para favorecer à terra e já estou no pé do fogão quentando a comida dos meninos. “- Vida de mulher é assim: desde pequenininha se esforça pra vencer o medo e ir sempre além da coragem.” Vou encarar mais um dia de labuta. A pé ou de ônibus, tenho de trabalhar para dar uma vida melhor a meu filho. Dou um toque especial à limpeza da casa e à comida da família. Sei cuidar de criança ou idoso como ninguém. Lavo, passo e cozinho com a mesma desenvoltura que dirijo um ônibus. “- Quando penso no tempo, 24h é igual a 36h. É filho, marido, casa, trabalho, escola, tudo nas costas da gente!” Domino a arte de fazer crochê, ser frentista, gari, feirante, ambulante, manicure, trançadeira, cozinheira, merendeira, pedreira, marceneira, costureira, artesã, jardineira, babá e agricultora. Deixo meu filho entregue a Deus para cuidar dos filhos de outras mulheres; para vender na feira ou até pra labutar na roça. Fico mais tranquila porque a vizinha de vez em quando passa o olho nele. Quando adoece, viro uma leoa; naquela hora sou apenas mãe. Enfrento a fila do posto de saúde e até durmo na porta do hospital; finjo não perceber o mau humor da atendente (que também é mulher) só para conseguir uma consulta médica pra ele. Sofro muito quando meu pequeno padece doente, mas sossego depois que o chá que lhe dei, faz efeito e vejo os olhos de meu filho brilhar novamente. Estudar e tirar boas notas é obrigação de todo filho, mas quando meu menino passa de ano me acabo de felicidade. Fico toda besta! Fazer o quê? Nunca pude estudar! Por isso me mato de trabalhar pra ver um dia meu menino na faculdade se tornando um homem de bem! Sou a mesma mulher que na década de 60 revolucionou a família. Deixei de ser apenas filha, irmã, esposa e mãe. Fui mais uma vez à luta: queimei sutiã, fui morar sozinha, descobri a pílula anticoncepcional, usei minissaia e sou dona do meu nariz. Sou professora, pedagoga, assistente social, psicóloga, médica, advogada, nutricionista, engenheira, odontóloga…
Sou mulher-doação, pois apesar de meus afazeres domésticos e profissionais, me inquieto com o sofrimento alheio e movida em compaixão saio do recôndito de meu lar para encher de carinho e conforto os corações mais necessitados.
Quando sou mulher-avó protagonizo um novo fenômeno social: além de contar histórias pro neto, levo ele pra escola, pro médico e ensino o dever de casa. Meu dinheirinho da pensão ajuda nas despesas da família. Apesar das dificuldades não esmoreço: faço ginástica, tecelagem, dança, artesanato, pintura, costura, confeitaria, jardinagem, panificação, e estou sempre presente no Parque da Melhor Idade. Sou mulher do mundo todo, mas sou da Caixa D água, IAPI, Santa Mônica, Pau Miúdo, Liberdade, Pero Vaz, Cidade Nova, Lapinha, Curuzu. Neste e em todos os dias, continuamos na luta por mais respeito e valorização.
08 de março de 2012
Escola Parque
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